Jerome Powell não se tornou um aliado do dólar. Após o discurso de ontem do presidente do Fed na Câmara dos Representantes, o dólar caiu em todo o mercado, inclusive em relação ao euro. O índice do dólar dos E.U.A. atingiu uma baixa de quase seis semanas, caindo para a base do valor 101. Embora, hoje, os otimistas do dólar estejam tentando recuperar algumas posições perdidas, o cenário fundamental geral está trabalhando contra a moeda americana.
Um momento difícil para o dólar
A principal âncora para o dólar é uma redução nas expectativas hawkish em relação às ações futuras do Federal Reserve. No entanto, no momento, o mercado está quase certo sobre um aumento da taxa em julho, embora isso não contribua para fortalecer o dólar. A julgar pela retórica de Powell, o Federal Reserve está atualmente limitado em suas manobras após dez rodadas de aperto da política monetária. O banco central deixou em aberto a opção de novos aumentos das taxas, mas quando e se ele os aplicará este ano continua a ser uma questão em aberto. É por isso que o dólar ficou sob pressão ontem, enquanto o par EUR/USD, por sua vez, está tentando se estabilizar em torno do nível 1,10.
De acordo com a ferramenta CME FedWatch, a probabilidade de um aumento de 25 pontos na taxa após a reunião de julho é de 71%. Antes do depoimento de Powell no Congresso, essa probabilidade estava em 75%. Em outras palavras, o chefe do Federal Reserve não alterou o sentimento do mercado em relação à reunião de julho. Entretanto, o dólar se enfraqueceu em todo o mercado em resposta à retórica do presidente do Fed. Em minha opinião, o mercado já precificou parcialmente o aumento da taxa de julho imediatamente após a divulgação dos resultados da reunião de junho.
A declaração que acompanhou a reunião teve um tom hawkish, com o banco central declarando explicitamente que estava fazendo uma pausa em vez de encerrar o ciclo de aperto da política monetária. Portanto, qualquer sinal que confirme um possível aumento da taxa em julho tem um impacto relativamente fraco sobre a dinâmica do dólar, enquanto qualquer dúvida afeta significativamente as posições dos otimistas em relação ao dólar.
É interessante notar que, de acordo com a Ferramenta FedWatch da CME mencionada anteriormente, o mercado estima a probabilidade de um aumento da taxa em julho em 71% e, ao mesmo tempo, tem quase certeza de que o banco central manterá o status quo na próxima reunião (setembro) (a probabilidade desse cenário é de 65%).
O que Powell disse?
Em seu discurso perante o Congresso ontem, Powell fez uma declaração interessante ao comentar sobre a pausa de junho. Ele afirmou que o banco central não aumentou as taxas em junho para avaliar o estado atual da economia e as consequências das medidas já tomadas, "dado o quanto avançamos em termos de aperto da política monetária e a rapidez com que nos movemos".
É importante observar que o Federal Reserve não usa o gênero epistolar em seus textos: cada palavra tem peso e significado. Portanto, a frase "quão longe chegamos" tem um caráter conclusivo no contexto das perspectivas de endurecimento da política monetária.
Outra frase proferida por Powell é interessante. De acordo com suas palavras, "quase todos" os membros do Comitê Federal de Mercado Aberto esperam que o regulador precise aumentar um pouco mais as taxas até o final deste ano ("mover a taxa um pouco mais longe do seu nível atual", literalmente). Isso sugere que, se o regulador decidir por outro aumento da taxa (o que é altamente provável), essa etapa provavelmente será o acorde final do atual ciclo de aperto da política monetária.
Na opinião dos economistas do Rabobank, o Fed aumentará as taxas na reunião de julho e manterá o status quo na reunião de setembro. Há mais duas reuniões programadas para o resto do ano - em novembro e dezembro. De acordo com os especialistas do banco, em teoria, o banco central poderia decidir sobre outro aumento da taxa em uma dessas reuniões (se a inflação desacelerar muito lentamente), mas há uma ressalva: nessa época, a economia dos EUA provavelmente estará em uma recessão leve. Portanto, a opção de "uma última chance" continua a ser uma prioridade.
Conclusões
O tom "conclusivo" do discurso de Powell perante o Congresso não agradou aos otimistas do dólar. O dólar ficou sob pressão, apesar de o presidente do Fed ter basicamente confirmado outro aumento da taxa no ciclo atual. Entretanto, esse fato já havia sido precificado nos preços atuais. Além disso, Powell reduziu a probabilidade de dois aumentos das taxas até o final do ano, embora esse cenário esteja implícito no gráfico de pontos atualizado divulgado em junho.
Os compradores do EUR/USD aproveitaram o enfraquecimento da moeda americana e estão atualmente testando o nível 1,10. O cenário fundamental atual dá suporte ao desenvolvimento de uma tendência de alta no médio prazo, já que o Banco Central Europeu parece mais hawkish em comparação com o Federal Reserve. A presidente do BCE, Christine Lagarde, anunciou explicitamente um aumento da taxa na próxima reunião e deu a entender que haverá outros passos nessa direção após a reunião de julho.
De uma perspectiva técnica, o par EUR/USD nos períodos 4H, D1 e W1 está entre as linhas média e superior do indicador de Bandas de Bollinger ou na linha superior. Em todos os períodos mencionados, o preço está acima das linhas do indicador Ichimoku (incluindo a nuvem Kumo). Essa configuração indica uma preferência por posições de compra. A abertura de posições longas é aconselhável quando os compradores do EUR/USD se estabelecerem acima da linha superior das Bandas de Bollinger no gráfico diário (1,1010). Nesse caso, o próximo alvo para o movimento de alta será 1,1100, que é a linha superior das Bandas de Bollinger no gráfico semanal.