A transparência tem diferentes definições para diferentes pessoas. Isto é o que disse Jerome Powell. No final de cada reunião do FOMC, o Fed faz uma declaração por escrito e o presidente realiza uma coletiva de imprensa. No entanto, no caso da declaração do FOMC de dezembro e da coletiva de imprensa, a definição de transparência do Fed não parece lá muito transparente. De fato, há muitos componentes da política monetária estão sendo discutidos. No entanto, o fato de nada ter sido dito sobre as próximas mudanças da política monetária deixa muitas dúvidas. Há também sutilezas nas palavras usadas para descrever os próximos ajustes, tais como reduzir o balanço patrimonial e começar a normalizar as taxas de juros. As ações do Fed são orientadas por dados e, como esses dados mudam, o mesmo acontece com as perspectivas do Fed. Entretanto, não houve menção na declaração ou na coletiva de imprensa de uma retirada de ativos acumulados no balanço patrimonial. A ata publicada revelou um quadro mais completo, discutindo o momento certo para começar a reduzir o balanço patrimonial. Antes da recessão, que foi um resultado direto da pandemia global, o Fed iniciou um programa agressivo de flexibilização quantitativa, comprando US$ 120 bilhões de Titulos do tesouro dos EUA e títulos hipotecários a cada mês. Durante uma recente coletiva de imprensa, o presidente foi questionado sobre o processo de redução gradual dos ativos. Ele disse que uma vez concluído o processo de redução gradual, o balanço permanecerá intacto e fornecerá a liquidez necessária para continuar a recuperação econômica. No entanto, um quadro muito diferente emerge da ata publicada, que declara explicitamente o início da redução no total de ativos. O gráfico abaixo, intitulado "Balanço do Fed por época", foi criado pelo Serviço de Notícias da Reuters utilizando dados do Fed.
Isso mostra que de 2008 a 2009, os ativos do Fed foram pouco menos de US$1 trilhão. No intuíto de estimular a economia, o Presidente Ben Bernanke, nomeado em 2006, utilizou um método ortodoxo para estimular e revitalizar a economia chamado de flexibilização quantitativa. De novembro de 2008 a junho de 2010, o Fed criou dinheiro comprando ativos financeiros de bancos e do governo. O programa de flexibilização quantitativa foi implementado em quatro etapas: QE1 - QE4. Em 2014, a Reserva Federal havia acumulado pouco menos de 4 trilhões de dólares em ativos. O QE4 foi o início do aperto quantitativo, que visava reduzir os trilhões de dólares detidos pelo Fed. Entretanto, o processo de aperto foi acompanhado de problemas e terminou em 2019. O Fed acabou reduzindo seu balanço para $3,7 trilhões de dólares de $4,5 trilhões de dólares. Naquele momento, o presidente do Fed acreditava que novos cortes iriam criar problemas econômicos, portanto o processo de redução de ativos estava terminado. Em meados de 2009, o novo presidente da Reserva Federal começou a usar agressivamente a flexibilização quantitativa, aumentando o balanço patrimonial da Reserva Federal para seu tamanho atual de cerca de US$ 8,6 trilhões, de US$ 3,7 trilhões. As últimas atas mostraram que, pela primeira vez, o Federal Reserve reconheceu publicamente que será criado um calendário para começar a reduzir os ativos. A julgar pela história, a redução de ativos do Fed tem restrições internas e é um processo complexo que deve ser concluído sem impactar negativamente a recuperação econômica. Foi este componente adicional que pegou os participantes do mercado desprevenidos, levando a uma grande queda nas ações dos EUA e no ouro. Embora o relatório de empregos de sexta-feira possa ter um impacto dramático em vários ativos, é neste mês que os participantes do mercado exigirão mais clareza e transparência sobre as intenções do Federal Reserve de reduzir seu enorme balanço patrimonial.