Confronto entre o dólar e o iene continua.

A incerteza em torno das futuras políticas do Federal Reserve dos EUA e do Banco do Japão está tendo um impacto na dinâmica atual do par de moedas USD/JPY. Ao longo desta semana, o par está se movendo de forma volátil, com dificuldade em definir uma direção clara. A questão que permanece é por quanto tempo essas flutuações persistirão e qual moeda, o dólar ou o iene, sairá favorecida no final.

Enquanto os mercados aguardam o relatório do Nonfarm Payrolls (NFP), a decisão final recai sobre as mãos do Federal Reserve.

O par USD/JPY está encerrando o mês com um ganho notável. Ao longo de agosto, a principal moeda se fortaleceu em 2,6%, impulsionada pela confiança do mercado na divergência monetária acentuada entre os EUA e o Japão.

Até recentemente, os investidores tinham praticamente certeza de que o Fed manteria sua postura hawkish nos próximos meses, enquanto o Banco do Japão continuaria dovish.

Contudo, eventos recentes provocaram dúvidas sobre essas previsões. O mercado agora está cheio de especulações sobre o possível fim do atual ciclo de aperto nos EUA e a transição do Banco do Japão para a normalização de sua política monetária.

Os dados macroeconômicos recentes dos EUA estão lançando dúvidas sobre as intenções hawkish do regulador americano. Esses dados mostraram sinais de desaceleração no mercado de trabalho e indícios iniciais de fragilidade na economia.

De maneira notável, na última terça-feira, o dólar americano sofreu uma queda acentuada em relação a todas as principais moedas, incluindo o iene, após a divulgação de um relatório fraco do JOLTS. As estatísticas revelaram que, em julho, as vagas de emprego nos EUA caíram para o nível mais baixo em 2,5 anos.

No dia seguinte, o dólar teve uma reação negativa aos dados de empregos não agrícolas nos EUA. De acordo com o relatório da ADP, o número de novos empregos cresceu apenas 177.000 em agosto, em comparação com as expectativas de 195.000.

Outro fator que pesou sobre o dólar foi o relatório final do PIB do segundo trimestre nos EUA, que caiu para 2,1% em base anual, em comparação com a previsão inicial de 2,4%.

Esses dados apenas confirmaram as expectativas dos investidores de que o Fed interromperá seu ciclo de aumento de taxas em setembro. A probabilidade desse cenário agora é estimada em quase 90% pelo mercado de futuros.

Dentro do contexto das estatísticas


Os analistas preveem que haverá uma forte volatilidade nos principais pares de dólar na próxima semana, com a divulgação dos dados do Non-Farm Payrolls (NFP). Se os dados forem muito mais fracos do que o esperado, isso aumentará as chances de o Federal Reserve pausar seu ciclo de aperto.

Nessa situação, é provável que o dólar caia, mas a queda pode ser breve. A maioria dos especialistas acredita que, uma vez que o mercado incorporar o risco de um fim nos aumentos das taxas nos EUA, os traders se concentrarão em saber por quanto tempo o Federal Reserve manterá as taxas elevadas.

Uma declaração recente do Presidente do Fed, Jerome Powell, feita no Simpósio Econômico de Jackson Hole, indicou que o Fed cogita manter as taxas elevadas por um longo período. Com a economia dos EUA desacelerando sob a pressão das condições monetárias restritivas, o mercado aguarda ansiosamente a próxima reunião do Fed, marcada para 20 de setembro.

De acordo com os analistas, a incerteza sobre as futuras políticas do Fed continuará a pesar no mercado nas próximas três semanas. Portanto, o dólar provavelmente continuará a ser volátil no médio prazo, com movimentos tanto para baixo quanto para cima.

Caso os formuladores de políticas dos EUA não apresentem sinais de flexibilização da política monetária na reunião de setembro, o dólar provavelmente se fortalecerá a longo prazo.

Quanto ao Banco do Japão e ao iene, as observações indicam que, desde fevereiro, a moeda japonesa tem caído abruptamente em relação a seus principais concorrentes nos últimos dias de cada mês. É improvável que agosto seja uma exceção a essa tendência.

Na quarta-feira, o indicador de fortalecimento do iene em relação às outras moedas do G10, monitorado de perto pelo Deutsche Bank, fechou em uma baixa recorde.

Contudo, no final de agosto, o iene tem uma boa chance de reduzir suas perdas mensais em relação ao dólar, caso a divulgação do índice PCE sugira uma inflação ainda mais reduzida nos EUA, reforçando o sentimento dovish do mercado em relação à política do Fed.

No próximo mês, a posição do iene também pode ganhar força devido à especulação ativa sobre uma possível mudança na política monetária por parte do Banco do Japão (BOJ).

É importante notar que, na semana passada, o governador do Banco Central do Japão também participou do fórum econômico em Jackson Hole. Durante seu discurso, Kadsuo Ueda chamou a atenção para o nível ainda baixo da inflação ao consumidor no país, o que, em sua visão, justifica a política monetária ultraliberal atual do BOJ.

No entanto, nesta semana, os touros do iene foram estimulados pela retórica mais agressiva das autoridades japonesas. Na quarta-feira, Naoki Tamura, membro do conselho do BOJ, declarou que o órgão regulador poderia suspender a taxa de juros negativa no início do próximo ano, uma vez que até então é provável que o banco tenha atingido sua meta de manter a inflação estável em 2%.

É relevante observar que o comentário de N. Tamura contrasta significativamente com o tom adotado por seu colega, Toheaki Nakamura. Na quinta-feira, o membro mais "dovish" da diretoria do BOJ defendeu a manutenção da política ultraliberal, argumentando que a meta de inflação do banco central ainda é difícil de ser alcançada.

Nakamura afirmou que o alcance sustentável e estável da meta de inflação de 2%, juntamente com o crescimento dos salários, ainda não estava ao alcance.

As opiniões recentes das autoridades japonesas indicam uma crescente divisão dentro do BOJ. Isso pode ser interpretado pelo mercado como um sinal de possível reavaliação iminente do atual curso monetário do banco central, levando a compras ativas de ienes antes da reunião de setembro do BOJ.

Por outro lado, as opiniões divergentes dos formuladores de políticas japonesas confirmam a recente afirmação do governador do BOJ, K. Ueda, sobre a extrema incerteza em relação à trajetória futura da inflação. Isso sugere que, enquanto o órgão regulador não tiver clareza sobre a direção dos preços, sua política atual será mantida.

Atualmente, a maioria dos especialistas prevê que o Banco do Japão dará os primeiros passos "hawkish" somente em abril de 2024, cancelando o mecanismo de controle da curva de rendimento e iniciando aumentos nas taxas apenas no segundo semestre do ano subsequente.

Até lá, é provável que o iene permaneça sob pressão e enfraqueça após cada reunião "dovish" do BOJ.

Resumo

Como podemos ver, o iene pode ter um desempenho superior ao do dólar em um futuro próximo. Entretanto, no médio prazo, o par USD/JPY provavelmente será negociado lateralmente devido à incerteza contínua sobre as ações dos órgãos reguladores dos EUA e do Japão.

Após as reuniões de setembro do Fed e do BOJ, o dólar americano tem mais chances de se fortalecer do que o iene, já que essas reuniões provavelmente não mudarão fundamentalmente as condições subjacentes. O cenário geral continuará favorecendo o dólar em vez do iene.