EUR/USD.O que Powell vai dizer?

O par euro/dólar encerrou a semana passada em torno do 9º dígito, saindo da faixa de preço de 1,0650-1,0770, dentro da qual foi negociado nas últimas três semanas. Embora o Federal Reserve tenha mantido sua taxa de juros, deixando-a inalterada, ele permitiu futuros aumentos. Por outro lado, o BCE aumentou suas taxas e garantiu outro passo na mesma direção no próximo mês. À primeira vista, o cenário fundamental parece favorável para uma tendência de alta significativa. No entanto, apesar disso, os compradores do par não conseguiram testar o nível de resistência crucial de 1,1000, necessário para o desenvolvimento de um movimento para cima. Como resultado, o par permanece dentro da 9ª cifra, aguardando o próximo catalisador do mercado. Esse catalisador pode ser o testemunho de dois dias de Jerome Powell perante o Congresso, que começa amanhã, 21 de junho. É um evento crucial da semana para os investidores envolvidos com o dólar.

É importante observar que não há consenso no mercado com relação à possível reação do mercado ao discurso de Powell. Por exemplo, alguns especialistas acreditam que é improvável que o presidente do Federal Reserve cause uma volatilidade significativa no par EUR/USD (bem como em outros pares de dólares), uma vez que ele já articulou os pontos principais há apenas uma semana na coletiva de imprensa. Eles argumentam que é improvável que Powell forneça novas informações substanciais, pois o mercado já considerou todas as observações, o que exerceu pressão sobre o dólar.

Sem dúvida, esse cenário é plausível. O presidente do Federal Reserve comentou sobre os resultados da reunião de junho na última quarta-feira e avaliou as perspectivas de um maior aperto da política monetária. No entanto, o depoimento de Powell perante o Congresso será diferente de suas declarações aos jornalistas, principalmente em termos de pontos enfatizados. Afinal de contas, os membros do Congresso não apenas ouvirão, mas também farão perguntas, inclusive as "incômodas". Essas perguntas podem envolver as consequências e os fatores subjacentes da crise bancária, cujo pico ocorreu na primavera.

A afirmação de que o setor bancário está sob controle ainda é prematura. Ontem mesmo, foi revelado que os americanos retiraram aproximadamente $80 bilhões dos bancos durante a semana passada. De acordo com o relatório publicado pela agência governamental Federal Deposit Insurance Corporation (FDIC), os bancos dos EUA registraram uma saída recorde de fundos de depósitos no primeiro trimestre deste ano. Os depositantes retiraram mais de US$ 470 bilhões de suas contas durante esse período, marcando o valor mais alto dos últimos 39 anos.

Em outras palavras, a saída em massa de fundos de depósitos bancários continua, o que sem dúvida levanta preocupações para os membros do Federal Reserve e do Congresso.

É importante observar que, já no início da primavera, após o colapso do Silicon Valley Bank, o maior banco do Vale do Silício, nos EUA, seguido pelas falências do Signature Bank e da Silvergate Capital Corp, foram feitas acusações contra o Federal Reserve (FRS) na mídia americana. Segundo vários jornalistas, o Fed falhou ao considerar as consequências de suas políticas excessivamente agressivas e essencialmente causou a crise bancária. Mais tarde, no final de maio, o próprio Jerome Powell expressou preocupações com as repercussões das decisões tomadas pelo FRS. Ele afirmou que ainda há incerteza nos mercados em relação às "consequências adiadas das medidas já tomadas". Curiosamente, durante esse período, o presidente do FRS decidiu pausar o aperto da política monetária, reconhecendo que o estresse bancário havia levado a padrões de crédito mais rígidos e diminuído a necessidade de elevar as taxas de juros.

Diante dessa situação, podemos presumir que o discurso de Jerome Powell inevitavelmente levará a uma maior volatilidade nos pares de moedas envolvendo o dólar, mesmo que ele reitere os principais pontos mencionados na recente coletiva de imprensa. Tudo se resume à ênfase colocada.

Por exemplo, ao se comunicar com jornalistas, Powell mencionou brevemente que os problemas no setor imobiliário comercial fariam com que os bancos americanos sofressem mais perdas. Ao mesmo tempo, muitos especialistas, inclusive economistas do JPMorgan, alertam que os empréstimos imobiliários comerciais podem se tornar o próximo choque para o sistema bancário dos EUA, e a falência de bancos regionais na primavera não será a última. Os analistas alertam que, em meio ao aumento das taxas de juros e à redução da demanda por espaços não residenciais (escritórios), a emissão de empréstimos hipotecários comerciais diminuiu em mais de 50%. Ao abordar essas tendências, o chefe do Federal Reserve reconheceu que o órgão regulador está monitorando de perto os eventos nessa esfera.

Portanto, durante seu discurso no Congresso, Jerome Powell reiterará as principais mensagens com base nos resultados da reunião de junho. Especificamente, ele mencionará que o Federal Reserve fez uma pausa para avaliar a situação e que o banco central pode voltar a adotar uma postura mais hawkish, se necessário. Entretanto, ele também poderá repetir comentários "desfavoráveis" sobre o dólar, como enfatizar que o gráfico de pontos não é um plano predeterminado ou uma previsão. Powell também pode destacar a tendência de queda nos indicadores de inflação, como o índice de preços ao consumidor e o índice de preços ao produtor, reiterando que as decisões de política monetária serão tomadas com base em cada reunião.

De modo geral, o cenário atual de informações não contribui para fortalecer a retórica de falcão de Powell. Portanto, o presidente do Federal Reserve exercerá pressão moderada ou significativa sobre o dólar dos EUA, já que há fortes expectativas hawkish em relação aos possíveis resultados da reunião de julho do FRS. De acordo com a ferramenta CME FedWatch, a probabilidade de um aumento de 25 pontos base na taxa de juros em julho está atualmente em 74%. Se as dúvidas sobre esse aumento se intensificarem após o discurso de Powell amanhã, o dólar enfrentará uma nova pressão em todo o mercado.